segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O PAGAMENTO E O PREÇO DAS INSCRIÇÕES…

Uma das 1ªs medalhas que ganhei e que é a minha predilecta

Antes do 25 de Abril de 1974 não havia cultura desportiva de massas, aliás naquele altura havia quem tratasse mal os poucos atletas que corriam pelas ruas da cidade e, incitando-os a irem trabalhar para as obras!
O movimento de massas veio depois, e foi, sobretudo, o poder local quem apoiou o Movimento da Corrida para Todos com os apoios logísticos e financeiros.

Claro que nesse tempo os prémios eram modestos; medalhas para os dez primeiros de cada escalão e pouco mais. Os atletas eram totalmente amadores e exclusivos de clubes onde alguns recebiam pequenos subsídios.

Em 1975 a um ano dos jogos Olímpicos de Montreal, Canadá, o Prof. Moniz Pereira solicita ao governo um maior apoio para os melhores e potenciais candidatos a participarem nos Jogos Olímpicos, os atletas começam a ser dispensados nos seus empregos de uma parte do dia (manhã ou tarde). Recordo que Carlos Lopes ganhou uma medalha de prata nos 10.000 mts, Aniceto Simões bateu o recorde nacional dos 5.000 mts. Com 13.21”, José Carvalho para além de baixar o mítico crono de 50” bateu o recorde nacional com 49.9” e foi 5º na final de 400 metros barreiras!

A partir daqui e sobretudo nos anos 80, inicia-se o movimento profissional e, naturalmente, os prémios alteram-se significativamente. Tudo evolui, umas coisas bem, outras mal, até aos dias de hoje.

O que está em regressão, parece-me, é a participação dos atletas de pelotão – não podemos avaliar o movimento através das Minis das Pontes 25 de Abril e Vasco da Gama, porque aí, a participação dos 30 ou 35 mil pessoas é pontual e embora haja já indícios dum movimento de transição destas para as corridas, os valores ainda são residuais.

Segundo estudos efectuados recentemente, o atleta de pelotão, em geral, já só participa em 10/12 provas por ano contra as 20/25 de outrora. Quanto a mim, por razões de ordem económica ou financeira, entre os quais está os altos custos de deslocação, mas também os altos preços das inscrições que dispararam ultimamente. Pessoalmente vou ter que reduzir, ainda assim vou fazendo as tais 25 provas, mas na época em curso, há-de ser difícil...

Há que reflectir sobre estes números, se dantes havia imensas provas com inscrições gratuitas e com bons apoios das autarquias, hoje isso não acontece, daí a razão principal das inscrições pagas.

A sensação que eu tenho é que o Estado se está a demitir das suas obrigações. Segundo a nossa constituição no seu artigo 79, cabe ao estado promover e apoiar as instituições e as colectividades para o desenvolvimento do desporto em geral e do atletismo em particular. Se a nível de Elites os apoios já estão ao melhor nível europeu. Do ponto de vista do desporto de lazer os apoios começam a ser confrangedores! E como se pode ver, o que o estado poupa ao não apoiar e não promover o desporto de manutenção e lazer, vai mais tarde pagar em despesas de saúde, com a recuperação de jovens “apanhados” pela toxicodependência, e a baixa produção dos adultos activos, graças às elevadas taxas de abstenção no trabalho por via de altos índices glicéreos, ou colesteróis, ou cardíacos!

Conclusão: como tudo hoje é pago, ou tendencialmente pago, (quem quer saúde paga, quem quer habitação paga, quem quer cultura paga etc. etc.) porque não pagar as inscrições das corridas?

Perante o quadro actual, claro que estou de acordo! O que não estou de acordo é com o valor, muitas vezes, exorbitante. Depois há aquela estratégia da inscrição barata a seis meses do evento e que sobe vertiginosamente a um mês da corrida. E há os casos do oito ou oitenta. Veja-se o caso da Corrida do Tejo; teve inscrições gratuitas durante as primeiras 24 edições, de repente passa para 7€, depois 8€, já vai em 10€! Já para não falar dos preços exorbitantes das “meias” das pontes! Aqui ao lado na vizinha Espanha, onde o poder de compra é substancialmente mais elevado que o nosso, os preços são semelhantes e nalguns casos inferiores, veja-se o caso da excelente Meia Maratona de Sevilha com 7€ de inscrição!!! Das duas uma: ou os “nossos” organizadores são, um pouco, gulosos, ou os espanhóis têm muito mais apoios! Ou será as duas coisas?...

Continua…
Um Abraço
Orlando Duarte

1 comentário:

Joaquim Margarido disse...

Brilhante trabalho de análise e algumas questões pertinentes cuja resposta o Orlando dá em parte. Eu permitir-me-ía acrescentar apenas esta e que pode também motivar um baixo nível de participação: E o modelo de muitas provas de estrada, que se repete ano após ano, (após ano...) não começará a estar esgotado? O bem receber é uma arte, cada vez menos cultivada nos dias que correm!

Abraço amigo.

JM

 
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