segunda-feira, 20 de outubro de 2008

PORQUE COMECEI A CORRER...


Porque comecei a correr?

A Minha modalidade favorita era o ciclismo, por via da grande festa da Volta a Portugal. Vivia num bairro pobre da periferia da cidade de Lisboa. Como não tínhamos bicicletas, arranjávamos caricas, colocávamos no seu interior cascas de fruta, para podermos distinguir qual era a nossa "bicicleta", desenhávamos uma pista no chão, com curvas, subidas, descidas, pontes etc. etc. e ali estávamos horas e horas naquelas corridas…as corridas, propriamente ditas, entravam nos jogos do Lenço, na apanhada e pouco mais.

Até que um dia…alguém acendeu a luz a este país. O país abriu-se, ficou mais alegre, mais humano e começou a desenvolver-se. Apareceu um movimento que tinha como lema: "O Desporto Para Todos" ou o "Desporto à Porta de Casa", não fui insensível e fui "contaminado". Com dois ou três amigos comecei a treinar (a esta distância reconheço que comecei muito mal), as provas foram aparecendo e desde o princípio de 1975 que pratico a corrida.

Qual a primeira corrida?

Sinceramente não me lembro. Certamente, até hoje, terei participado em mais de 600 corridas. Todavia, só dez anos mais tarde comecei a registar as corridas em que participo, por via disso, posso afirmar que desde Setembro de 1985 até 19 de Outubro de 2008, participei em 441 corridas, tendo percorrido 4 896 quilómetros em competição e recebido imensas lembranças, entre as quais 326 camisolas!

O que me custou mais?

O início foi algo penoso, por ignorância, por falta de apoio material, pela qualidade do material…os mais velhos perceberão o que eu estou a relatar. Os mais novos se, por ventura, virem fotografias de há 30/35 anos, facilmente perceberão o que eu estou a tentar dizer-lhes. Os tecidos, secos já eram pesados, imaginem depois de suados…os sapatos de corrida idem idem. Pertencer a um clube pobre de bairro, que apesar de ter algumas pessoas empenhadas e generosas, pouco mais nos podia dar. O país estava atravessar uma crise política e, por consequência, económica. E assim, só a força da juventude, a paixão que a pouco e pouco se apodera de nós, os resultados que vão melhorando prova após prova, superou todos esses obstáculos e me fez "resistir" até hoje (e espero por muitos mais anos).
Hoje tudo é diferente, há mais e melhores condições de treino, há mais conhecimentos, e se houver calma e paciência, a introdução na corrida poderá ser indolor. Começar com uma hora de corrida contínua, como eu comecei, hoje é impensável. Há que alternar: corrida ligeira com marcha, retirando pouco a pouco a marcha chegando ao ponto de se fazer a tal hora de corrida contínua com prazer…


Meu maior sonho?

Tive vários. O primeiro foi entrar para um grande clube. Em Setembro de 1976 fui prestar provas ao Estádio do Restelo a fim de entrar para o C. F. "Os Belenenses" e fui aprovado. Convém recordar que naquela época aquele clube atravessava um mau bocado e os subsídios para os atletas eram fracos, logo o quadro de atletas não podia ser muito forte, daí o meu recrutamento. Porém, três meses depois surgiam-me problemas nos joelhos e foi detectado um problema congénito nas rótulas e tive que ser operado aos joelhos e lá se foi o meu primeiro sonho…

Dez anos depois, comecei a sonhar com a maratona. Face à retirada de dez por cento das minhas rótulas, a intensidade de treino, necessariamente, abrandou e a maratona era mesmo um sonho. Contudo, pensei: “com mais ou menos dores, tenho que fazer uma maratona!”. E como só posso fazer uma, e como bom português, quero fazer menos de três horas… depois de 1000 km de intensos treinos durante longos três meses, participo na Maratona de Lisboa a 6 de Novembro de 1988. As condições climatéricas não podiam estar piores para se fazer uma maratona: frio, chuva e sobretudo vento. Durante a corrida vejo o tempo a passar e nenhuma marca de passagem a ser cumprida, a dada altura, num dos poucos locais que havia vento a favor, ainda me aproximei do objectivo porém, aquela légua dos 30/35 km na 24 de Julho com vento forte contra, deitou tudo a perder. Eu estava a valer 2h55, mas o objectivo era baixar as 3 horas, nem que fosse 2h59m59…naquelas condições saiu 3h02m10s e lá se foi mais um sonho…mas o prazer de completar uma maratona ficou cá, é inesquecível, inenarrável, só quem já transpôs aquela linha final compreende o que estou a dizer...

Próximo sonho: correr até aos últimos dias da minha vida…

A partir de hoje, sem nunca ter sonhado ser jornalista (que não sou, nem pouco mais ou menos), muito menos escritor, acho estar a viver um sonho… poder colaborar com este blogue rodeado de cinco excelentes escribas!!!

Um Abraço e até um dia destes por aí nalguma prova!

Orlando Duarte

1 comentário:

Joaquim Margarido disse...

É com emoção que se bebem as tuas palavras, Orlando. Isto do blogue não é sonho, é devaneio. Sonho é conhecer-te e ter-te como amigo.

JM

 
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