sábado, 15 de novembro de 2008

E AS MULHERES?...


Desde a origem do universo que a mulher tem desenvolvido importantes acções, quer na vanguarda, quer na retaguarda junto e no seio familiar. Há histórias interessantíssimas sobre mulheres guerreiras e lutadoras, mulheres piedosas e solidárias, mulheres com altos índices culturais que tudo deram e fizeram em prol da humanidade. Porém, houve sempre quem teimasse em considerar isso em actos isolados e irrelevantes e submetessem a mulher para um 2º ou 3º plano e, pior ainda, as castigassem com proibições e obrigações desumanas.

Para não recuar muito na história de Portugal, porque quanto mais para trás pior, vale a pena lembrar que este país viveu 48 longos anos de obscurantismo (1926/1974 ditadura fascista), onde se desenvolveram várias descriminações, quer raciais, xenófobas, políticas (sobretudo) e de género ou sexo. E é esta última discriminação que eu quero trazer à colação.

Luísa sobe, sobe a calçada, sobe e não pode que vai cansada.
Sobe, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe sobe a calçada.
Saiu de casa de madrugada; regressa a casa é já noite fechada.
Na mão grosseira, de pele queimada, leva a lancheira desengonçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada.
Luísa é nova, desenxovalhada, tem perna gorda, bem torneada.
Ferve-lhe o sangue de afogueada; saltam-lhe os peitos na caminhada.
Anda, Luísa. Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada.
Passam magalas, rapaziada, palpam-lhe as coxas não dá por nada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada.
Chegou a casa não disse nada. Pegou na filha, deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa numa golada; lavou a loiça, varreu a escada;
deu jeito à casa desarranjada; coseu a roupa já remendada;
despiu-se à pressa, desinteressada; caiu na cama de uma assentada;
chegou o homem, viu-a deitada; serviu-se dela, não deu por nada.
Anda, Luísa. Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada.
Na manhã débil, sem alvorada, salta da cama, desembestada;
puxa da filha, dá-lhe a mamada; veste-se à pressa, desengonçada;
anda, ciranda, desaustinada; range o soalho a cada passada,
salta para a rua, corre açodada, galga o passeio, desce o passeio,
desce a calçada, chega à oficina à hora marcada, puxa que puxa,
larga que larga, puxa que puxa, larga que larga, puxa que puxa,
larga que larga, puxa que puxa, larga que larga; toca a sineta
na hora aprazada, corre à cantina, volta à toada, puxa que puxa,
larga que larga, puxa que puxa, larga que larga, puxa que puxa,
larga que larga. Regressa a casa é já noite fechada. Luísa arqueja
pela calçada. Anda, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe,
sobe a calçada, sobe que sobe, sobe a calçada, sobe que sobe,
sobe a calçada. Anda, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe, sobe a calçada.
Poesias Completas (1956-1967) António Gedeão

Naquele tempo a mulher não tinha direitos! Ou por outra, tinha…o direito a estar calada e abaixo de cão! A mulher para sair do país tinha que ter autorização do marido! A mulher não podia ser proprietária de nada sem conhecimento e autorização do marido! A mulher não tinha direito de voto! A prova mais longa que a mulher estava autorizada a participar era…1500 metros!!! A mulher era, aquilo que se diz na gíria: um verbo-de-encher!!!
Felizmente, há trinta e quatro anos, as políticas do país mudaram, as mentalidades (muito) paulatinamente vão mudando e, hoje, já há sinais de clara mudança na nossa sociedade. Há empresas altamente dirigidas por mulheres, mulheres nas chefias militares e de segurança pública, mulheres deputadas (62 = 26.95 % do parlamento), mulheres no governo (2 = 11.76 %) e até na direcção da Federação Portuguesa de Atletismo (2 = 15.38 %)!
E nas corridas?...
Neste caso, o quadro não é muito diferente do acima descrito. Felizmente, o conceito que a mulher é para estar em casa a coser meias…já vai sendo do passado, pelo menos nas grandes metrópoles. Certamente que no interior a coisa ainda vai rareando…
Todavia, a pouco e pouco, a participação tem vindo a aumentar. Dos 4,5,6 % habituais, está-se a verificar em provas com Minis, participações de 15, 20 e 25 %, o que revela estarmos no bom caminho…
Contudo, há que deixar uma palavra de apelo aos organizadores, no sentido de pensarem mais um pouco nas mulheres, apelar aos organizadores para alterarem os regulamentos e alterarem as grelhas de prémios a fim de se irem esbatendo as assimetrias actualmente existentes, quer na qualidade, quantidade e até na distribuição dos escalões etários!
Um Abraço.
Orlando Duarte



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